O nascimento do terceiro filho
Poesia de Ovídio Spínola
A mãe chora de saudade
dos filhos que deixou em casa.
Ela chora de emoção com o filho que nasce.
Os filhos choram de saudades da mãe que sumiu.
Na maternidade, é proibido falar dos filhos.
A mãe chora, e todos a acompanham no choro.
Em casa, é proibido falar da mãe.
Os filhos não compreendem e choram.
O pai quase morre de tanta emoção,
vendo a mãe tão alegre e tão triste;
vendo os filhos abatidos, parados, sem graça,
vendo a neném, tão linda, também chora.
Vai pra maternidade, vai pra casa,
vai trabalhar... vai... vai...
pra lá e pra cá.
E na cabeça, alegre e triste,
emocionada e cansada,
vários filmes vão se passando,
vários sonhos vão se formando,
os olhos cheios de água,
um sorriso interior.
Penso nos filhos.
Penso na neném,
penso na mãe,
penso no amor!
Que saudade da vida tranqüila,
da felicidade e aconchego do meu lar.
Quero voltar pra lá.
Todos juntos, vamos sorrir.
E as lágrimas vão acabar.
Meus amigos, eu confesso.
É duro pra segurar.
É uma dor lá de dentro,
que aperta o coração.
Eles (a mãe e os filhos)
não sabem que sou humano
e que morro de paixão,
vendo a saudade eu choro.
Fico no meio da guerra,
vai explodir o coração!
Texto escrito no Hospital São Lucas, quando do nascimento do terceiro filho (16/JUN/88).
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